Dados abertos na educação



Na primeira metade da década de 90, os orçamentos oficiais publicados pelo governo da Uganda afirmavam que 20% de suas despesas entre 1991 e 1995 foram direcionadas à educação através de subvenções. No entanto, uma análise anos depois confirmou que escolas não receberam mais do que 13% desses fundos, o resto sendo coletado por oficiais locais e políticos. Situação similar ocorreu em outros países da áfrica, segundo a mesma pesquisa.

A Uganda é um exemplo bem-citado para ilustrar a necessidade de transparência e responsabilidade ao que se refere aos dados abertos na educação. Os achados da análise gerou uma resposta imediata: passaram a publicar nos jornais transferências de dinheiro público todo mês. Além disso, escolas começaram a informar todo capital embolsado. Assim, pais e professores puderam entender o funcionamento do programa de subvenções (muitos nem sabiam o quanto deveriam ter recebido naquele período).

Informações como nomes de funcionários, orçamentos, detalhes sobre cursos e currículos, materiais disponíveis, estatísticas da instituição educacional e dados acerca de performance tanto de professores como de alunos são tipos de dados que remetem a esfera da "educação aberta". O Reino Unido, por exemplo, oferece dados sobre o desempenho de escolas e ausência de alunos. Datasets como esses permitem que pais, preocupados em obter apenas a melhor das melhores oportunidades de aprendizagem à suas crianças, e em evitar que estes sejam apenas outros tijolos na parede, escolham a escola de maior ranking de qualidade, e aumentem suas chances de um bom futuro acadêmico.

O número crescente de competições e desafios de dados abertos resultam em inovações no uso de dados abertos e melhorias para a educação. Em uma competição de 2016 na Irlanda do Norte, dados providenciados pelo governo foram usados para gerar formas de auxiliar no ensino de escolas primárias e secundárias. "Our Raging Planet" foi um dos ganhadores: uma ferramenta para que alunos compreendam como desastres naturais em locais distantes do planeta podem afetar regiões mais próximas.

Já na suíça, a iniciativa "Lehrplan 21" (Currículo 21, em alemão) almeja introduzir aos estudantes os princípios de trabalhar com dados e como contribuir, manter e utilizar bancos de dados, e a "School of Data Switzerland" é outro projeto visando aumentar interesse entre a nova geração em trabalhar e entender dados.

E como tá a situação aqui em casa, no Brasil? Em 2016, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e o MEC divulgaram seus PDAs (Opa, como assim você não sabe o que é um PDA? Se liga na tag "PDA" aqui no blog!) e se comprometeram a atualizá-los a cada dois anos. A distribuição das bolsas do Prouni seriam um tipo dos dados disponibilizados.

Já em sentido de desafios, foram desenvolvidos alguns com objetivos parecidos com o de abrir os dados no reino unido: a identificação de escolas de qualidade com base em indicadores como formação dos professores e ambiente de ensino. "Escola Que Queremos" e "Educação Inteligente" são exemplos de ganhadores que então desenvolveram seus projetos, ambos nesse mesmo âmbito.

...E, aparentemente, o primeiro não mantêm mais esse projeto de pé. O website agora leva a um site em japonês que aparenta ser um blog. Sobra então, para esse objetivo, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) para determinar se as metas de qualidade estão sendo atingidas.

Em suma, considerando as inovações ocorrendo na Europa, é fácil perceber que poderíamos nos beneficiar ao propiciar ferramentas que ajudem no ensino brasileiro, seja para com o aprendizado ou para a gestão pública que visa atingir resultados enquanto atende o quesito de transparência. Uma possível medida seria a continuação de programas como hackathons para fomentar a criatividade e criação dessas soluções.

Mas, independente de qual medida for adotada...


...Tomara que não demorem muito.

That's all folks!

Links:
Local capture: evidence from a central government transfer program in uganda
Education: Open Data in Schools
MEC e FNDE publicam seus planos de dados abertos



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